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sábado, 29 de setembro de 2012

Transtorno bipolar

Ele era calado e revoltado. Tinha um semblante fechado e um olhar sempre desconfiado. Cabelos curtos, barba por fazer e um jeito largado de se vestir.
Aos poucos se aproximou e iniciou uma conversa breve e típica de inícios, apresentações formais e logo em seguida o silêncio. Mais tarde retornou com novos assuntos e sempre com perguntas e mais perguntas. De repente surge um sorriso em seu rosto que transformou totalmente seu semblante: não era a mesma pessoa!
Assuntos foram surgindo e afinidades também. Tínhamos alguns colegas em comum e ele já havia morado em minha cidade. Por vezes frequentamos os mesmos locais e fizemos as mesmas coisas e nunca havíamos nos visto. 
Sua revolta surgia em alguns momentos em que pedia a liberdade de romper as trancas e poder correr mundo à fora. Ele queria muito mais só que não sabia por onde começar. E quem poderia lhe indicar o caminho se todos tentavam barrá-lo?
Passava de uma agitação para um profundo isolamento. Deitava e dormia e as vezes fingia que dormia. Seria esse o único meio de sumir dali? Isso ninguém poderia responder por mais que seus olhos gritassem a todo momento o que sua boca calava.
Por duas vezes eu vi ele arrumando suas coisas para partir e por duas vezes vi ele frustrado por não ter seu desejo atendido. Vi ele chorar uma vez e vi ele enfrentar os soldados de fardas brancas por inúmeras vezes. Alternava entre sua apatia e sua agitação. Alternava entre sorrisos e semblante fechado. Alternava entre silêncio e reclamações. Alternava porque não tinha outra alternativa.


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