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terça-feira, 24 de maio de 2011

Bala de canela

É estranho se dar conta de que o tempo vai diminuindo as nossas lembranças, mais estranho ainda é se dar conta de que nossos sentidos vão mudando ou até mesmo se perdendo.
Esquecemos os cheiros, os sons das vozes. Nos lembramos do jeito de agir, dos momentos que vivemos, mas de uma forma diferente.
Tudo está ali na sua frente, na sua mente e voce nao se recorda. Isso é muito complicado.
Eu me lembro de quando voce vinha em minha casa, trazia sempre um pacote de balas de canela. E eu me deliciava com aquele sabor doce mas forte ao mesmo tempo.
O tempo passou, você se foi...eu era muito mais novo do que ainda sou. Nao entendia ao certo o que acontecia naquela época. Crianças...tão puras, sinceras, espontâneas...mas tão ingenuas.
Só depois que cresci é que me dei conta do que realmente aconteceu. Talvez tenha sido bom isso porque de alguma forma era como se eu ainda esperasse você chegar trazendo aquelas balas.
Hoje sonhei com você, mas no sonho você também tinha partido e eu me negava a olhar a cena. Seria essa minha negação inconsciente? Meu desejo de que voce ainda estivesse aqui?
A vida é como aquele barco à velas solto em alto mar, que vai indo, as vezes para, mas logo continua. E aí você olha pra margem e já nao a vê. Só tem a certeza de que é preciso seguir em frente até chegar em um outro lugar para estacionar definitivamente.
Talvez nessa outra margem estejam todos aqueles que já terminaram a viagem e aí sim poderemos abraçar novamente e saber que nesse momento tudo será definitivo, sem tempestades, sem paradas...tudo com sabor de eternidade.
E eu te eternizei aqui...com minhas balas de canela que me fazem de certa forma retornar a margem de origem onde dei os primeiros passos, as primeiras remadas...nessa viagem na qual o capitão do barco não nos diz quando será o momento de lançar as ancoras.
Balas de canela...doces e fortes...como a saudade!

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